EMRC no 1º ciclo
Era uma vez um rapaz bravio que gostava de pregar partidas e
fazer matulices, só por embirração. Era muito antipático este rapaz. Mas
emendou-se. Eu conto como foi.
Um dia, por maldade, deu-lhe na veneta atormentar uma pobre
velhota, que vivia numa casinha pobre, à beira do povoado. Foi para uma
pedreira que havia perto e pôs-se a atirar pedras e a rebolar pedregulhos, que
iam cair no quintal da velhota. Para o que lhe havia de dar!? No fim do seu feito, já cansado, aproximou-se
da casa da velhinha, para ver de perto os resultados da sua proeza. Andava a
velhinha a recolher as pedras, espalhadas pelo quintal.
— Foi uma bênção que me caiu do céu — dizia a velhinha. — Precisava,
há muito tempo, de consertar o muro do quintal, mas não tinha forças para
trazer tantas pedras. Se não fosse esta avalanche… O rapaz ficou de boca aberta. E mais sem fala
ficou quando a velhinha lhe propôs:
— Bom rapazinho, importas-te de me ajudar a consertar o
muro?
Ele, que tinha de fazer de conta que era um bom rapazinho,
não teve outro remédio. Passou o resto do dia a acartar pedras, as pedras que
ele lançara do alto do monte.
No fim da tarefa, a velhota agradeceu-lhe o trabalho e
deu-lhe um grande boião de mel. O rapaz lá se foi, cansado e a lamber os
beiços, um tanto confundido. À noite, quando se deitou, estava cá com uma dor
nas costas, que não lhes digo nada! Mas regalado com o mel que a velhinha lhe
dera.
Ora pois! Serviu-lhe de emenda. Mudou de intenções. Não
posso garantir se, dessa vez em diante, nunca mais pregou partidas. Um diabinho
não se transforma de repente num santinho. É exigir demais. Mas, na verdade,
deixou-se de brincadeiras tolas.
Sem que possa ser considerado um virtuoso rapazinho, também
já não é um venenoso rapazote. Nem rapazinho, nem rapazote. Apenas um rapaz.
Nem muito mau, nem muito bom. Como quase toda a gente, aliás.