«Entretanto, Caim disse a Abel seu irmão: “Vamos ao campo”. Porém, logo que chegaram ao campo, Caim levantou a mão contra o irmão e matou-o. O Senhor disse a Caim: “Onde está Abel, teu irmão?” Caim respondeu: “Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?” O Senhor replicou: “Que fizeste?”» (Gn 4,8-10).
A pergunta do Senhor: “Que fizeste?”, à qual Caim não se pode esquivar, é dirigida também ao homem contemporâneo, para que tome consciência da amplitude e gravidade dos atentados à vida que continuam a registar-se na história da humanidade.
“Onde está o teu irmão?”
Como não pensar na violência causada à vida de milhões de seres humanos, especialmente crianças, constrangidos à miséria, à subnutrição e à fome, por causa da iníqua distribuição das riquezas entre os povos e entre as classes sociais? Ou na violência inerente às guerras [...]? Ou noutro género de atentados relativos à vida nascente e terminal [...] que tendem a perder o carácter de “crimes” para assumir, paradoxalmente, o carácter de “direitos”?
Como se pôde criar semelhante situação? [...] Existe uma crise profunda da cultura, que gera cepticismo sobre os próprios fundamentos do conhecimento e da ética e torna cada vez mais difícil compreender claramente o sentido do homem, dos seus direitos e dos seus deveres